blog

O MEU FILHO SANDUÍCHE – o filho do meio

Era uma vez um menino que deixou de ocupar o lugar de bebé lá de casa para se transformar no filho-sanduíche.

Teresa Heitor Ferreira
Psicóloga, psicanalista e membro fundador da AP
teresaheitorferreira@gmail.com

Ser o mais novo tinha vantagens, às quais eu estava habituado. A ronha do bebé lá de casa, os pedidos de ajuda por ser o mais pequeno e, legitimamente, ainda não ser tão capaz como o meu irmão mais velho, o colo quando não me apetecia chegar sozinho ao destino, a comida na boca quando a brincadeira me tinha deixado extenuado até para pegar nos talheres, ou até um simples pedido de ajuda para ganhar o jogo, porque afinal se é o mais pequenino.

Um dia, todas estas regalias desapareceram, sem aviso prévio; era como se tivesse passado uma aragem e levasse com ela tudo o que me pertencia. Essa aragem tinha um nome: Sebastião. E intitulava-se agora “o irmão mais novo da família”.

– E eu? Não sou o irmão mais velho – o crescido que sabe tudo; e também já não sou o irmão mais novo – aquele a quem se dá mais atenção.
– Será que já não há lugar para mim nesta família?
Andava preocupado; no entanto, não me atrevia a dizer nada a ninguém. Mas, quando já não aguentava mais de raiva em relação àquele ser que me tinha roubado o lugar e, ainda por cima, de quem era suposto eu gostar, uma vez que tinha a infelicidade de ser meu irmão, perdi a cabeça e pummm! Um tabefe num bebé minúsculo. Lá em casa, ficaram todos em pânico e, finalmente, deram-me atenção. Estavam preocupados com as razões que me levariam a fazer tal monstruosidade. Pois é, mas para mim o monstro era ele, o Sebastião. E para um monstro, monstro e meio! A mãe não me ralhou e, por momentos, deixou de pensar só em fraldas e biberões para pensar em mim.

Disse-me: “Sabes? O recheio da sanduíche é o mais saboroso.” – com isto, ela queria dizer que tinha que descobrir os benefícios do meu novo estatuto de filho do meio. Eu era o filho sanduíche.

A partir deste momento, eu e a mãe entrámos numa viagem sem fim, onde dia, após dia, ela me ia mostrando como era confortável o meu novo estatuto.

Fui percebendo que era o único dos três que tinha o privilégio de ser o mais velho (do que o bebé), e o mais novo (do que o mano mais velho de todos). Com isto queria dizer que podia jogar no meio campo – ora à defesa, ora ao ataque – conforme me sentisse grande e capaz, ou a precisar de uma dose adicional de mimos.

Afinal, parece que ao contrário daquilo que eu pensava, não tinha perdido o estatuto dentro da família, mas, ao invés disso, tinha sido promovido.
Viva o Sebastião!