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O MENINO QUE DAVA CARINHAS TRISTES À MÃE
Logo pela manhã, “o Caracoleta” – era assim que o tratavam em casa, em homenagem aos seus imensos caracóis – zangou-se com a mãe. – Vamos para a escola, estamos muito atrasados!
Teresa Heitor Ferreira
Psicóloga, psicanalista e membro fundador da AP
teresaheitorferreira@gmail.com
Vira para a direita, vira para a esquerda, mais uns pontapés numa bola, mais duas palavras com o irmão e a mãe irrita-se:
– Tu não me ouves, já para a casa de banho lavar os dentes.
O Caracoleta foi para a casa de banho com bico de pato, amuado como fazia sempre que se zangavam com ele, lavou os dentes e correu para o quarto.
A mãe voltou a ficar impaciente:
– O casaco está aqui. Não me aborreças mais. O que é que foste fazer para o quarto?
O Caracoleta estava sentado na escada que dava acesso ao seu beliche fazendo a contabilidade da avaliação do comportamento dos pais.
A mãe entrou no quarto para o arrastar até à porta e encontrou um menino de 7 anos com o sobrolho franzido, que lhe disse:
– CALMA! Não queres aumentar mais ainda as tuas 40 carinhas tristes , pois não?
– Nem pensar nisso! E quantas carinhas contentes
– Tens 15 – continuou, ainda de sobrolho franzido.
– Vou ter que pensar mesmo nisso. Agora vamos, que estamos atrasados.
O Caracoleta sorriu, vestiu o casaco e saiu com a mãe.
No caminho de regresso, sozinha e já sem pressas a mãe vinha a pensar com os seus botões: “de facto, a ideia das crianças andarem a correr desde que acordam para cumprirem a horas as rotinas do dia não é lá grande coisa, em termos de educação. Talvez o nosso papel seja o de fazê-los cumprir as rotinas a horas gerindo o tempo majestaticamente, de modo a que eles possam cumprir as suas tarefas de forma relaxada e com prazer. E talvez seja mais importante do que tudo o resto estarmos atentos aos sinais de quando pisamos o risco vermelho e lá levamos mais uma carinha triste.
Os pais também precisam de balizas na educação e as carinhas,