blog

FAMÍLIA PARA QUE TE QUERO

Na infância, a família tem uma função essencial no desenvolvimento e na construção da nossa identidade. E quando chegamos a adultos? Qual o papel da família na nossa vida? Até que ponto vivemos bem sem ela? Talvez para muitos de nós o contacto com a família só aconteça quando casamos, baptizamos os nossos filhos ou quando morre algum elemento da família. E aí sim, revemos com prazer aquele familiar que não víamos desde o último casamento, baptizado ou funeral.

Teresa Heitor Ferreira
Psicóloga, psicanalista e membro fundador da AP
teresaheitorferreira@gmail.com

O nosso crescimento é como a construção de uma casa. A nossa família são os tijolos, e o cimento os laços afectivos que nos unem. Se o construtor (as figuras parentais) se enganar na quantidade de cimento, ou fizer uma mistura com demasiada areia, a construção da casa fica pouco sólida e em risco de ruir. Talvez seja este sentimento que está na base da relação que estabelecemos na idade adulta com os familiares que fizeram parte da nossa infância.

Temos as famílias que se desenvolveram com “construtores” eficazes e com matérias primas sólidas, que são aqueles que cresceram, interiorizaram as relações afectivas integradas na construção da sua identidade, relacionam-se com a família mas não dependem dela – são adultos autónomos, encontraram a sua homeostasia, e relacionam-se equilibradamente consigo e com o meio. Mas depois temos também as famílias dos independentes, dos pseudoindependentes e dos “três mosqueteiros”.

Os independentes são aqueles que se regem pelo princípio de que a família é boa para vermos nos baptizados, casamentos e funerais, justificando este afastamento com o trabalho e os muitos afazeres e com a expressão: “É a vida…”.

Os pseudo-independentes são aqueles que socialmente até nos parecem independentes, têm uma vida independente, trabalho e casa própria, mas no seu íntimo vivem uma grande ambivalência em relação à família; umas vezes apetece-lhes estar o mais longe possível, outras vezes preocupam-se excessivamente. Algumas palavras ou acções da família ferem-nos como lanças cravadas, outras vezes assumem o papel do “já sou crescido e não quero saber”.

As famílias “os três mosqueteiros” são do tipo: “todos por um e um por todos”. Nestas famílias são todos muito dependentes uns dos outros. Há reuniões familiares a propósito de tudo e de nada para decidirem todo o tipo de acções familiares. Fazem-me lembrar as empresas de gestão de condomínios que estão autorizados a gerir por conta própria um plafond baixíssimo, estando, assim, muito dependentes das decisões da maioria dos condóminos.

Quando pensamos em filhos as preocupações mais comuns são os gastos com a saúde e a alimentação, e se vão ser “espertinhos” na escola, de preferência que não deem muito trabalho e que não haja muitas queixas de comportamento.

Talvez nem sempre tenhamos presente, quando pensamos no aumento da família, a responsabilidade parental que nos compete na “construção de uma casa” que será o maior património para toda a vida dos nossos filhos. Uma “casa” bem construída dá-lhes segurança e equilíbrio emocional para toda a vida. Esta é a chave dos futuros adultos que se relacionam bem consigo e com o mundo