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EXCESSO DE AUTO-ESTIMA OU GENERAIS DE PAPEL?

O que será isso do “excesso de auto-estima”?

Teresa Heitor Ferreira
Psicóloga, psicanalista e membro fundador da AP
teresaheitorferreira@gmail.com

De uma forma simples, podemos definir a auto-estima como a imagem que temos de nós próprios. A interiorização que fazemos do nosso valor, do que somos capazes. Parece-me que a auto-estima nunca é incutida em excesso, se a virmos como energia que alimenta o Eu, e que permite que para toda a vida lutemos pelos nossos objectivos e por superarmos as nossas dificuldades. Tudo porque temos inscrito na constituição mais precoce do nosso Ser um juízo positivo sobre as nossas capacidades.

A questão que coloca remete também para outro conceito: o narcisismo.

Podemos referirmo-nos ao narcisismo, de uma forma redutora, como o investimento que as figuras primárias (quem cuida de nós desde que nascemos) fazem no seu bebé. O tipo de investimento que fazemos nos nossos bebés vai fazer com estes vão estruturando o seu Ego de forma saudável ou não. É quando existe, por exemplo, sobrevalorização narcísica da mãe pela via do bebé que podem ser geradas patologias narcísicas. A mãe investe o seu bebé como compensação da sua imagem de pouco valor e o seu bebé passa a ter valor, não como pessoa em si, mas como função para a mãe. Podemos, por exemplo, assistir ao investimento que alguns pais fazem na escolaridade e nas profissões reconhecidas socialmente para os seus filhos, tantas vezes para se sentirem recompensados pelo seu próprio fracasso enquanto estudantes, ou no reconhecimento social que não sentem ter. “O que possuo é ouro, logo sou rei”. Só que a realeza não se constitui pelo que possuo, mas pelo que sou.

Estes adultos terão, na maioria das vezes, uma organização psicológica ligada a perturbações narcísicas e a deficits na auto-estima – são os “Generais de papel”. A aparência de grandiosidade funcionará, neste contexto, como um mecanismo de defesa de protecção a um Eu que grita por uma valorização que o sente mais como postiço do que como constitutivo do seu Ser, porque o “verdadeiro” valor organiza-se através de um amor precoce desinteressado que se inscreve no desejo da mãe e não na continuidade das necessidades desta. Podemos dizer que a principal diferença entre um adulto com uma auto-estima saudável e outro com uma perturbação narcísica é que o primeiro “É” porque foi amado, e o segundo “Parece ser” porque não foi suficientemente amado. A qualidade do amor precoce é a energia que move o motor da sanidade mental adulta.